Na hora de escolher uma ação de dividendos é muito comum que o investidor olhe para apenas um indicador, o Dividend Yield. Ele, com certeza, é um aspecto muito importante a ser analisado, mas que nunca deve ser analisado de forma individual.
Isso, porque, um Dividend Yield alto pode até ser um sinal de alerta.
Nesse post vamos te explicar o motivo por trás disso, os fatores que podem distorcer um D.Y. e como você pode identificar ações que são boas pagadoras de dividendos.
Por que um Dividend Yield alto pode enganar?
Se você tivesse essas duas opções:
- Ação A: 20% DY (últimos 12 meses)
- Ação B: 8% DY (últimos 12 meses)
Qual você escolheria?
À primeira vista, muitos optariam pela primeira opção, atraídos pelo número mais alto.
Mas, e se eu te dissesse que a Ação 1 realizou apenas um pagamento muito alto em uma data específica. Enquanto isso, a Ação 2 manteve uma boa consistência, entregando os mesmos 8% DY ao longo de cinco anos. De repente, a escolha já não parece tão óbvia, não é?
Um DY elevado é naturalmente atrativo, especialmente para investidores que buscam ganhos consistentes em forma de dividendos. Empresas que apresentam um retorno acima da média do mercado frequentemente se tornam objeto de desejo, mas é preciso perguntar: esse retorno é sustentável?
Na prática, um DY muito alto pode ser resultado de situações excepcionais, como uma queda abrupta no preço das ações ou uma distribuição de dividendos fora do comum, não necessariamente indicativa de boa saúde financeira.
Assim, o que parece uma oportunidade pode, na verdade, ser uma ilusão perigosa.
Os motivos por trás de um Dividend Yield elevado
Desvalorização da ação
O D.Y. é calculado dividindo os dividendos pagos pelo preço atual da ação.
Sendo assim, quando o preço da ação de uma empresa despenca, o DY automaticamente aumenta, o que cria uma falsa sensação de um bom retorno de dividendos, mas na verdade pode indicar problemas financeiros ou falta de confiança do mercado.
Exemplo:
Digamos que uma empresa pagou R$ 5,00 em dividendos por ação.
Se o preço da ação era R$ 100,00, o DY é de 5%. Agora, se essa mesma ação desvaloriza e cai para R$ 50,00, o DY sobe para 10%.
Apesar do DY elevado, o investidor sofreu uma desvalorização de 50% no preço da ação. Isso mostra como o DY pode ser distorcido.
Pagamentos insustentáveis
Nesse caso, estamos nos referindo a situações em que uma empresa paga dividendos em um nível que não é viável manter no longo prazo. Essa prática, embora possa atrair investidores no curto prazo, frequentemente cria problemas estruturais que colocam em risco a sobrevivência da própria companhia no futuro.
Aqui entra:
Distribuição de lucros excepcionais
Uma empresa pode ter um ano muito lucrativo devido a fatores pontuais, como a venda de ativos, ganhos cambiais ou aumento temporário na demanda por seus produtos.
Para agradar acionistas, ela decide distribuir uma grande parcela desses lucros como dividendos.
O problema ocorre quando os investidores passam a esperar que esse nível de distribuição se mantenha nos anos seguintes. Isso cria uma pressão para que a empresa mantenha pagamentos elevados, mesmo que não tenha capacidade financeira para isso no longo prazo.
Endividamento para sustentar dividendos
Quando recorrem a empréstimos ou emissão de dívidas para continuar pagando dividendos elevados, mesmo em momentos que os lucros não acompanham.
Esse comportamento é especialmente preocupante, pois aumenta o endividamento, gera custos financeiros adicionais e reduz a flexibilidade da empresa para lidar com crises ou oportunidades.
Um exemplo clássico são empresas em setores regulados, como energia, que tentam manter a confiança do mercado à custa de sua saúde financeira.
Pagar mais do que o lucro líquido
Outro exemplo clássico de pagamento insustentável é quando o valor distribuído em dividendos supera o lucro líquido. Isso ocorre quando empresas utilizam reservas de lucro acumuladas de anos anteriores ou até mesmo parte do seu capital de giro.
Esse tipo de decisão pode agradar investidores a curto prazo, mas compromete os recursos disponíveis para operações futuras. Empresas em setores maduros, como papel e celulose ou mineração, podem ser tentadas a adotar essa prática em períodos de queda de preços no mercado, o que acaba por enfraquecer sua posição financeira em momentos de recuperação econômica.
Como identificar se o Dividend Yield está distorcido?
Analise o histórico de dividendos
- Uma boa ação de dividendos tem consistência em seus pagamentos. Empresas com histórico irregular ou concentrado em períodos específicos devem levantar dúvidas. Olhe para o histórico do Dividend Yield dela e responda as seguintes perguntas:
- O pagamento é consistente ao longo dos anos?
- O DY sempre foi alto ou subiu recentemente?
- Comparado a média do setor, esse valor é alto?
Confira o Payout Ratio
Quanto do lucro é destinado a dividendos? É essa pergunta que o Payout responde.
Esse indicador mede a porcentagem do lucro da companhia que está sendo utilizado para pagar os dividendos. Idealmente, ele deve estar entre 30% e 70%.
Empresas que utilizam uma porcentagem muito alta, acima de 70%, acabam deixando pouco capital disponível para reinvestir no negócio. Sem reinvestimento, pode enfrentar dificuldades para crescer, inovar ou até manter suas operações. Além disso, lucros podem oscilar ao longo dos anos, tornando arriscado um payout tão elevado.
Identifique lucros não recorrentes
Descubra se o lucro recente da empresa veio de atividades normais ou eventos extraordinários (como venda de ativos ou ganhos contábeis).
Você consegue encontrar essa informação no relatório gerencial ou a demonstração de resultados no site de RI. Mas, é bem comum que essas notícias sejam veiculadas na mídia, portanto uma pesquisa no Google deve bastar.
Este material da B3 detalha mais sobre os chamados “Dividendos Extraordinários”, pagos a partir de lucros não recorrentes: O que são dividendos extraordinários e como funcionam?
Esses 3 pontos são essenciais para avaliar se uma empresa é uma boa pagadora de dividendos. No entanto, existem outros aspectos que podem ser analisados para um entendimento mais aprofundado, como: o fluxo de caixa operacional (FCO), o endividamento e o crescimento da empresa. Esses fatores garantem uma visão mais clara sobre a sustentabilidade dos pagamentos e a saúde financeira da companhia.
Nota de dividendos do Drops
O jeito mais rápido e prático de você entender se a ação é boa pagadora de dividendos é por meio da nota de dividendos do Drops. Ela fica disponível no perfil da ação de forma gratuita.
Notas altas, ou seja, as mais próximas de 10, indicam que a companhia distribui bons dividendos de forma constante e sustentável para o negócio.
Para calcular, verificamos indicadores como o dividend yield (rendimentos desses dividendos), crescimentos dos dividendos, sustentabilidade desses pagamentos, constância e se essas remunerações têm interferido negativamente nas operações da companhia.
Conclusão
Embora um Dividend Yield elevado possa ser atrativo, ele deve ser analisado com cautela. Não se deixe seduzir apenas pelos números chamativos; investigue o contexto por trás do indicador. Avalie a saúde financeira da empresa, sua capacidade de manter pagamentos futuros e os fatores externos que possam influenciar seu desempenho.
Investir com sabedoria exige uma abordagem criteriosa. No mundo dos investimentos, olhar além da superfície é o que diferencia amadores de investidores bem-sucedidos.