Conflito Israel x Hamas: impactos na economia e no mercado financeiro

O panorama atual de conflito entre o estado de Israel e o grupo terrorista Hamas já demonstra as reverberações iniciais no cenário econômico global. Em meio à tragédia humana, os investidores encontram-se alertas, observando atentamente como os desdobramentos das ofensivas podem afetar os mercados financeiros.

Neste contexto, entenda quais os impactos desse conflito nos ativos globais e como você pode proteger e direcionar seus investimentos diante dessa crise geopolítica que ocorre no Oriente Médio. 

Imagem conflito Israel x Hamas

O conflito armado entre o governo de Israel e o grupo terrorista Hamas, se iniciou no sábado (7) e provocou turbulência no mercado financeiro. O conflito entre Israel e Palestina tem como desdobramento mais trágico a destruição de vidas, que salta à casa dos milhares. Diante das notícias do número crescente de mortes, há aspectos menos importantes, mas que precisam ser tratados, como o impacto na bolsa e em outros ativos.

‼️ O intuito desse artigo não é aprofundar em aspectos específicos do conflito, por isso, recomendamos assistir o vídeo a seguir, de um especialista na área: ISRAEL EM GUERRA – O QUE ESTÁ ACONTECENDO? | Professor HOC

Breve Contextualização Conflito Israel x Hamas

Em uma ofensiva surpresa no sábado (7), o Hamas lançou um ataque e invadiu o estado de Israel. Mobilizando forças por mar, terra e ar, o grupo dominante politicamente na Palestina executou uma das maiores ofensivas contra a nação judaica em sua história. O porta-voz das forças armadas do país comparou o conflito aos terríveis ataques terroristas de 7 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, destacando que o confronto atual já acumula mais de 2000 vítimas.

A agressão se materializou através de milhares de foguetes lançados contra Israel, enquanto grupos de combatentes cruzavam a fronteira, infiltrando-se em comunidades israelenses e atacando e raptando civis. Em resposta, o Estado de Israel retaliou com ataques aéreos. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, proferiu uma declaração contundente, afirmando que a Palestina enfrentará um “preço sem precedentes” pela ofensiva, e anunciou o estado de guerra em Israel.

Repercussões Econômicas Iniciais

O impacto imediato desse conflito foi sentido no mercado de petróleo, com os contratos Brent e WTI subindo 4% na sessão do dia 9. Isso porque o conflito se dá na região do Oriente Médio, que concentra grandes produtores da commodity.

Os investidores temem uma interrupção na oferta de petróleo, o que poderia acelerar a inflação global, já pressionada pela atual dinâmica entre Rússia e Ucrânia, e por isso antecipam o movimento de subida dos preços. Agora, grande parte dos esforços para domar a inflação, especialmente por parte do Banco Central Americano, pode estar sob perigo.

Os bancos centrais ao redor do mundo têm enfrentado desde o começo do último ano um verdadeiro combate contra a inflação, sendo o aperto monetário (elevação da taxa de juros) a principal ferramenta para contrapor o crescimento dos preços.

O Brasil, que esteve entre os primeiros países a elevar sua taxa básica de juros, agora passa pelo início de um período de afrouxamento monetário. Esta situação contrasta com a postura do banco central mais influente do mundo, o Federal Reserve (Fed).

A distância dos preços em relação à meta nos EUA é o principal motor para o nível atual da taxa básica de juros no país: 5,25% a 5,50% ao ano, o pico mais alto em duas décadas. Assim, se o valor do petróleo voltar a subir em razão da disputa entre Israel e Hamas, há um elevado risco de aceleração inflacionária global, aumentando também a probabilidade do Fed prolongar a elevação da taxa básica além do previsto anteriormente.

Impacto nos setores e ativos específicos

🛢️ Petrolíferas:

Em um ambiente no qual os preços do petróleo devem se valorizar, ações e títulos de grandes petrolíferas tendem a seguir o movimento, visto que suas receitas estão diretamente ligadas aos preços das commodities.

Os papéis das petroleiras registraram fortes ganhos na segunda-feira (9), com alta de PETR4 (+4.30%), ENAT3 (+4.13%), RRRP3 (6,01%), RECV3 (+8,7%) e PRIO3 (+8.79%).

✈️ Companhias aéreas:

Do lado dos que perdem com a alta do petróleo estão as ações de companhias aéreas, cujas despesas com combustível encarecem e afetam o seu negócio. Os papéis AZUL4 e GOLL4 registraram queda de 4.93% e 4.10% logo após disparada do petróleo.

💸 Dólar:

Considerado um abrigo em momentos de incerteza no mercado, a disparada do dólar deve se dar apenas se o conflito deixar de ser regional. As reações da moeda devem estar mais ligadas aos indicadores dos EUA, especialmente os dados de inflação.

🗽 Treasuries:

A cereja do bolo da possível alta do petróleo em reflexo da guerra entre Israel e Hamas é a pressão sobre os juros projetados pelos Treasuries (títulos de dívida do governo norte-americano). A alta dos yields dos Treasuries, que já estão no maior patamar dos últimos 16 anos, diga-se de passagem, significa queda de ativos de risco como ações e a penalização de ativos emergentes, inclusive os brasileiros.

🪙 Ouro:

Considerado refúgio de proteção durante períodos econômicos mais conturbados, é provável que o cenário de aversão ao risco tende a beneficiar o metal. 

Reações e extensão do conflito Israel x Hamas

Apesar de já ser possível observar um pequeno impacto em setores específicos da economia e em certos mercados ao redor do mundo, os investidores encontram-se ainda sem muitas informações sobre a extensão da guerra na faixa de Gaza. Caso o conflito mantenha-se restrito àquele território, é bem provável que o mercado não venha a ser tão volátil. No entanto, essa hipótese aparenta ser um pouco frágil.

Destruição de propriedades e mortes de civis são acontecimentos inevitáveis. O que gera preocupação é a maneira que os demais países árabes, como Arábia Saudita, Catar e Irã, irão reagir. Historicamente, essas nações demonstraram-se solidárias a seus companheiros palestinos e se posicionaram contra Israel em outros conflitos. Assim, caso o confronto escale, o prognóstico não parece ser positivo.

Havendo extensão do conflito, seja para resgatar os reféns (israelenses capturados pelo Hamas) ou destruir o Hamas, isso deve se prolongar por meses. Essa escalada de violência soma-se ao cenário de pressões inflacionárias relacionadas à guerra entre Rússia e Ucrânia. Não se pode dizer que os impactos serão pontuais e circunscritos à região.

Conflito Israel x Hama, imagens de prédio destruídos.

Cenário imprevisível e ponderações

Olhando no curto prazo, o risco gira em torno de se a guerra vai mais longe. Como já dito, o maior temor é que a guerra se estenda (diferente do que geralmente ocorre nos conflitos envolvendo Israel) e passe a incluir outros personagens. Neste caso, é quase certo que os preços do petróleo escalem ainda mais e tragam uma calamidade ainda maior para o cenário global.

Já imaginando uma escalada nos preços do barril de petróleo, alternativas seriam:

  • Flexibilização do óleo russo e venezuelano

  • Ação norte-americana

  • Redução nos cortes de produção da Arábia Saudita e nos Emirados Árabes

No primeiro caso, há pouco espaço para produzir e entregar mais na Venezuela e ainda existe a questão do conflito na Rússia;

No segundo caso, as reservas nos Estados Unidos são muito baixas e eles tenderiam a exportar menos, a fim de conter os preços internamente;

Na última situação, os árabes eventualmente poderiam reduzir seus cortes de produção, já que têm capacidade produtiva de sobra atualmente.

Como proteger sua carteira?

Esse contexto trágico nos lembra da importância de ter proteções em nossas carteiras para momentos delicados como este, que podem piorar rapidamente. Por mais que não seja afetada imediatamente pelo ataque do Hamas, a oferta de petróleo tem possibilidade de ser reduzida com a intensificação do conflito. Dessa forma, ter uma carteira exposta à commodity pode representar uma proteção interessante do patrimônio em um cenário de valorização do ativo.

Além disso, o ouro, que pode enfrentar pressão no curto prazo, ainda é a principal reserva de valor da história e surge como uma possibilidade interessante de hedge. No Brasil, manter uma reserva ancorada aos rendimentos de títulos indexados à inflação já é bastante benéfico no momento.

No curto prazo, é um momento de cautela, com os investidores buscando proteção. Tudo isso, claro, é feito com o devido dimensionamento das posições, levando em conta o perfil de risco, e uma diversificação de carteira adequada, com as respectivas proteções associadas.

Tome cuidado!

Existe um perigo, contudo, de cairmos no que Howard Marks frequentemente denomina de “pensamento de primeiro nível”. Embora a posição em petróleo pareça lógica, ela também se apresenta como óbvia e demasiado consensual, correndo o risco de estarmos em um desses “crowded trades” (todos já comprados). Assim, deveríamos refletir sobre o que constituiria um pensamento de segundo nível aqui.

Um fator a ser levado em conta é que preços do petróleo extremamente altos começam a aniquilar a demanda. O mecanismo de preços induz um ajuste automático. Adicionalmente, ao longo da história, poucos elementos são mais eficazes em gerar uma coordenação global do que uma guerra brutal com imagens impactantes na televisão.

Sempre que um trade muito evidente se apresentar, vale a pena reconsiderar se não existem questões de segunda ordem pertinentes. A posição em petróleo é crucial e deve integrar portfólios. No entanto, ela necessita ser apropriadamente dimensionada. A distinção entre o remédio e o veneno reside na dosagem.

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