Ibovespa: história, o que é e os acontecimentos mais marcantes

O Índice Bovespa, também conhecido como Ibovespa, é o principal indicador do desempenho médio das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) no Brasil. Ele foi criado em 1968 e sua origem está relacionada à evolução da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) e da própria Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A Criação do Ibovespa

A década de 1960 foi um período de grande transformação no Brasil. O país enfrentava um momento político conturbado com o regime militar, que havia se instaurado em 1964. Por outro lado, o cenário econômico apresentava oportunidades, com o governo militar priorizando a industrialização e a modernização da economia. 

Foto ilustrativa da criação do Ibovespa

A Necessidade de um índice

Diante a esse contexto, o mercado de capitais brasileiro estava em expansão, e havia uma necessidade crescente de ferramentas que permitissem uma avaliação mais sistemática e precisa do desempenho do mercado acionário.

Sendo assim, era fundamental criação de um índice que refletisse o mercado de ações para atrair mais investidores, nacionais e estrangeiros, dando-lhes uma referência clara de desempenho. 

O Nascimento do Ibovespa

Primeiros índices no Rio de Janeiro (BVRJ):

A história do Ibovespa começa em 1962, quando o Prof. Mário Henrique Simonsen e sua equipe criaram o primeiro índice da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ).

Alterações metodológicas:

Em 1966, Luís Sérgio Coelho de Sampaio, Superintendente Técnico da BVRJ na época, realizou várias alterações na metodologia desse índice.

IBV – Índice da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro:

Em janeiro de 1967, foi lançado o IBV – Índice da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, que adotou as alterações metodológicas feitas por Sampaio.

Expansão para São Paulo:

Foi neste cenário que, em 2 de janeiro de 1968, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) lançou o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa. A primeira carteira para o IBOVESPA abrangia 18 blue chips. Na segunda carteira, houve a expansão para 27.

Primeira carteira do Ibovespa:

  • Aços Villares: Incorporada pela Gerdau S.A.
  • Alpargatas: as ALPA3 e ALPA4 ainda existem, mas não fazem mais parte do Ibovespa.
  • Antarctica: a Antarctica faz parte agora da Ambev, empresa com grande peso no Ibovespa.
  • Banco do Estado de São Paulo (Banespa): foi comprado pelo Santander, que faz parte do Índice Bovespa.
  • Banco Itaú: hoje correspondem às ações do Itaú Unibanco (ITUB4).
  • Casa Anglo (Mappin): faliu.
  • Cimento Itaú: teve as ações recompradas pela Votorantim no início da década de 2000.
  • Companhia Docas de Santos: não está mais listada na bolsa.
  • Duratex: ainda negociada na bolsa sob o ticker DTEX3, mas não compõem o índice.
  • Indústrias Villares: não é mais negociada na bolsa de valores.
  • Lojas Americanas: após os escândalos de fraude contábil foi retirada do índice.
  • Fábrica de Brinquedos Estrela: a ESTR4 continua na bolsa de valores, mas há muito tempo não compõe o índice.
  • Companhia Melhoramentos Papeis de São Paulo: não tem mais liquidez suficiente para ser do Ibovespa, mas continua, sendo negociada sob o código MSPA3 e MSPA4.
  • Moinho Santista: não tem mais ações negociadas na bolsa.
  • Companhia Paulista de Força e Luz: saiu do Ibovespa.
  • Souza Cruz: teve quase todas as suas ações adquiridas por uma empresa britânica em 2015 e saiu da bolsa.
  • Vale do Rio Doce: hoje a empresa é conhecida como Vale e é o maior peso do Ibovespa.

O que é o índice Bovespa?

O Ibovespa é o principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3. Ele é formado por uma carteira teórica de ações, escolhidas de acordo com uma série de critérios, juntas essas ações representam cerca de 80% dos negócios realizados e do volume financeiro no mercado de capitais. Assim, na medida que essa carteira sobe ou desce, o investidor consegue ter uma noção de como as ações mais representativas da Bolsa estão performando.

Acontecimentos importantes para a história do Ibovespa

O “Milagre Econômico” Brasileiro

O “milagre econômico” brasileiro período, entre 1968 e 1973, no qual o Brasil experimentou um crescimento econômico acelerado sob o regime militar. Durante esses anos, o PIB brasileiro cresceu a taxas anuais médias de 8% a 10%, um dos ritmos mais rápidos do mundo na época.

Como isso refletiu no Ibovespa?

O ambiente econômico otimista e a vinda de capital estrangeiro tiveram um impacto direto no mercado de ações brasileiro:

  • Aumento nas Cotações: O Ibovespa, como reflexo do mercado, teve performances excepcionais durante esse período, com altas expressivas na cotação das ações.

  • Maior Liquidez: Houve um aumento na liquidez do mercado acionário, com mais ações sendo negociadas e mais empresas abrindo capital.

  • Atração de Investidores: O cenário favorável atraiu mais investidores para a bolsa, tanto nacionais quanto estrangeiros.

A Década de 1980

A década de 1980, frequentemente referida no Brasil como “a década perdida”, foi caracterizada por sérios desafios econômicos. O crescimento econômico robusto do “milagre econômico” dos anos 1970 deu lugar a um período de estagnação, inflação galopante e crescente endividamento externo.

Um dos principais problemas econômicos da década foi a hiperinflação, na qual ficou acima dos 100% anual, e a dificuldade para pagar e renegociar a dívida externa com a elevação das taxas de juros internacionais e a redução do fluxo de crédito.

Impacto no Ibovespa:

  • Volatilidade: o Ibovespa experimentou períodos de alta volatilidade, refletindo as incertezas do cenário econômico.

  • Desvalorização Real: embora o índice em alguns momentos tenha registrado ganhos nominais, quando ajustado pela inflação (hiperinflação), os retornos reais foram frequentemente negativos.

  • Fuga de Capitais: a instabilidade econômica levou a uma fuga de capitais, reduzindo a liquidez do mercado acionário e tornando o ambiente de investimento menos atrativo.

Plano Cruzado (1986)

O cenário de inflação galopante prejudicou o poder de compra da população, criou incertezas econômicas e desestabilizou o ambiente de negócios. Diante dessa situação, o governo de José Sarney, que havia assumido a presidência em 1985, decidiu lançar o Plano Cruzado em 1986. Entre os principais aspectos do Plano, está a introdução de uma nova moeda, o Cruzado, substituindo o Cruzeiro, e o congelamento de preços, visando combater a inflação.

Após a euforia inicial, o mercado começou a perceber as fragilidades do Plano Cruzado. O Ibovespa, que inicialmente reagiu positivamente ao plano, começou a refletir a desconfiança dos investidores. A combinação de desabastecimento, incerteza econômica e retorno da inflação levou a uma queda no índice.

Plano Real (1994)

Após anos de hiperinflação e diversos planos econômicos que falharam em estabilizar a economia, o Brasil introduziu o Plano Real em 1994. O objetivo era estabilizar a economia, combater a inflação e estabelecer as bases para um crescimento sustentável.

No Plano Real, foi introduzido o Real, a nova moeda brasileira. Bem como, foi estabelecida a âncora cambial, com objetivo de controlar a inflação, sobrevalorizando o Real em relação ao dólar, e foram realizadas diversas reformas estruturais.

Com a introdução do Plano Real, o Ibovespa refletiu a crescente confiança dos investidores na economia brasileira. Com a estabilização da economia e maior previsibilidade, o Brasil começou a atrair mais investimentos estrangeiros, incluindo investimentos diretos e em mercado de capitais, além da economia voltar a crescer de forma mais robusta e sustentável, após anos de estagnação e hiperinflação.

Plano real e o impacto no ibovespa
Fernando Henrique Cardoso (Ministro da Fazenda), durante coletiva no Ministério da Fazenda

Privatizações nos anos 90

Durante a maior parte do século XX, o Brasil adotou um modelo de desenvolvimento centrado no Estado, com o governo desempenhando um papel ativo na economia através da posse e operação de várias empresas estatais em setores-chave.

No entanto, na década de 1990, o Brasil embarcou em um ambicioso programa de privatizações, a fim de aliviar o fardo fiscal do Estado e aumentar a eficiência do setor privado.

Ibovespa e a privatização dos anos 90
Ibovespa e a privatização dos anos 90
Ibovespa e a privatização dos anos 90

Isso impactou o mercado acionário das seguintes formas: 

  • Aumento das Ofertas de Ações: Muitas das privatizações envolveram a oferta de ações no mercado. Isso resultou em um influxo significativo de novas ofertas públicas iniciais (IPOs) e ofertas subsequentes na Bovespa.

  • Modernização do Mercado: As privatizações exigiram uma modernização do mercado de capitais brasileiro, incluindo melhorias em termos de transparência, governança corporativa e regulação.

  • Maior Liquidez: A entrada de grandes empresas anteriormente estatais no mercado acionário aumentou a liquidez e diversificou o Ibovespa.

  • Atração de Investimento Estrangeiro: O processo de privatização e a subsequente listagem dessas empresas na bolsa atraiu interesse estrangeiro, trazendo mais investidores internacionais para o mercado acionário brasileiro.

Crises da Ásia (1997) e da Rússia (1998)

A Crise da Ásia:

Frequentemente chamada de “Crise dos Tigres Asiáticos”, foi desencadeada por problemas nos setores bancário e imobiliário, juntamente com grandes déficits em conta corrente em várias economias asiáticas. A crise resultou em pânico nos mercados financeiros, fuga de capitais, falências e intervenções do FMI em vários países.

Crise da Rússia (1998):

Em 1998, a Rússia enfrentou uma grave crise financeira causada pela queda dos preços do petróleo, grandes déficits fiscais e problemas estruturais na economia russa, culminando no default de sua dívida e na desvalorização do Rublo em agosto daquele ano. A crise levou a um pânico no mercado global e afetou fortemente os mercados ao redor do mundo.

Em reflexo a esse cenário, a Bolsa brasileira chegou a cair 15,83%.

Reflexos no Ibovespa:

Devido a crise internacional, o mercado acionário brasileiro foi fortemente impactado, fazendo com que no dia 27 outubro de 1997, o Ibovespa caísse 14,98%. Principalmente, por conta da fuga de capitais, a desvalorização cambial (que forçou o Brasil a adotar um regime de câmbio flutuante) e o aumento das taxas de juros, a fim de evitar maiores saídas de dinheiro.

Eleições de 2002 

As eleições presidenciais de 2002 no Brasil, que tiveram como presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram marcadas por incertezas e expectativas, pois não se sabia ao certo como sua postura inclinada à esquerda afetaria a economia.

Logo após a eleição de Lula, o Ibovespa registrou quedas, refletindo a incerteza, a reação negativa do mercado às mudanças políticas iminentes e à retirada de capital estrangeiro do mercado.

A história do Ibovespa: resultados da eleições de 2002; Lula ganha com 46,4% dos votos

Recuperação do Ibovespa:

A medida que o governo demonstrava compromisso com a estabilidade macroeconômica e com um ambiente favorável de negócios, o mercado começou a se recuperar e os estrangeiros começaram a retornar à bolsa brasileira.

Nesse período, o Brasil experimentou um crescimento econômico robusto, impulsionado pelo boom das commodities, políticas sociais expansivas e investimentos em infraestrutura, beneficiando o mercado acionário.

Descoberta do Pré-Sal (2007)

A descoberta das reservas de petróleo na camada do pré-sal representa um dos eventos mais significativos na história econômica e energética do Brasil. Esse acontecimento ocorreu em 2007 e teve um impacto profundo na economia e no mercado de ações do país. Estimativas iniciais indicaram que as reservas do pré-sal poderiam conter bilhões de barris de petróleo, tornando o Brasil um dos principais produtores mundiais.

Essa notícia, gerou euforia nos mercados financeiros brasileiros. Com isso, o Ibovespa, registrou ganhos significativos, impulsionado pelas empresas do setor energético, especialmente a Petrobras, que tornou-se uma das principais beneficiárias desse desenvolvimento.

Crise Financeira Global de 2008 

Desencadeada pelo colapso de grandes instituições financeiras nos Estados Unidos, a crise teve ramificações em todo o mundo. Sua causa está relacionada a problemas no mercado imobiliário dos EUA, especialmente empréstimos hipotecários subprime de alto risco.

Quando o mercado imobiliário colapsou e os preços das casas despencaram, esses títulos perderam valor, levando a perdas significativas para bancos e investidores em todo o mundo. A falta de confiança no sistema financeiro resultou em um congelamento dos mercados de crédito interbancário e em uma crise de liquidez.

O medo chegou até o Brasil:

Diante a esse cenário, os investidores estrangeiros retiraram capital de mercados emergentes, incluindo o Brasil, em busca de ativos mais seguros. Isso somado à desvalorização do real em relação ao dólar, resultou em uma queda acentuada do índice Ibovespa.

Desempenho do Ibovespa entre 2008 e 2020

Crise Política e Econômica no governo Dilma (2014-2016)

Entre 2014 e 2016, o Brasil enfrentou um período de turbulência e incertezas que envolveu uma combinação de fatores políticos e econômicos. Foram descobertos extensos escândalos de corrupção envolvendo empresas estatais (como a Petrobras), políticos e empreiteiras. Isso levou a economia brasileira a enfrentar uma das piores recessões de sua história e ao impeachment de Dilma Rousseff, acusada de irregularidades fiscais. Michel Temer tomou posse como presidente interino.

Impacto no Ibovespa:

Como nos demais eventos de incerteza, a crise trouxe grande queda do Ibovespa, fuga de capital estrangeiro e desvalorização do real perante outras moedas consideradas fortes. O governo implementou medidas para controlar o déficit fiscal diante do mais uma vez desafiador ambiente de negócios.

Reformas de 2016 – 2019

Durante o governo de Michel Temer (2016 – 2018) e o início do governo de Jair Bolsonaro (2019 – 2022), o Brasil passou por um período de implementação de reformas econômicas importantes, que abordaram várias áreas, incluindo a Previdência Social e as leis trabalhistas. 

Reforma da Previdência:

A reforma da Previdência foi implementada para lidar com o crescente déficit previdenciário e a insustentabilidade do sistema de aposentadorias. Ela trouxe mudanças nas idades mínimas de aposentadoria, regras de contribuição e cálculo dos benefícios previdenciários. Tudo isso, trouxe expectativas positivas no mercado financeiro, visto que os investidores enxergaram como um sinal de compromisso com a sustentabilidade fiscal.

Reforma Trabalhista:

A reforma trabalhista visou modernizar as leis trabalhistas brasileiras para tornar o mercado de trabalho mais flexível e competitivo. Ela introduziu mudanças nas regras de contratação, demissão, jornada de trabalho e negociação coletiva, etc. Os investidores viram isso como um passo positivo para melhorar a competitividade das empresas.

Impacto no Ibovespa:

As reformas geraram expectativas positivas no mercado e tornaram o ambiente mais atraente para investidores estrangeiros, que viram as reformas como um sinal de compromisso com a estabilidade econômica e fiscal, fazendo com que a bolsa reagisse com ganhos significativos no período.  

Pandemia de COVID-19 (2020)

A pandemia de COVID-19, que se espalhou globalmente a partir de janeiro de 2020, representou uma das crises mais desafiadoras do século XXI. O Brasil não foi exceção e enfrentou consequências significativas em termos de saúde pública e economia. O país teve um número alto de óbitos e, assim como em todo mundo, se viu forçado a adotar medidas de isolamento social para conter a propagação da doença, afetando a atividade econômica.

Impacto econômico:

A pandemia desencadeou uma recessão econômica, com queda no PIB e aumento do desemprego. Setores como turismo, aviação, restaurantes e entretenimento foram duramente atingidos, com paralisações significativas em suas operações. O governo brasileiro implementou medidas de estímulo fiscal e programas de auxílio emergencial para mitigar os impactos econômicos da pandemia, o que afetou o déficit fiscal. 

Uma das maiores quedas da história do Ibovespa

O Ibovespa registrou quedas significativas em resposta à pandemia, seguindo a tendência dos mercados globais, com um mercado extremamente volátil, de oscilações diárias acentuadas no índice. Como era de se esperar, investidores estrangeiros retiraram capital do mercado brasileiro em busca de ativos considerados mais seguros durante a crise. No dia 16 de março de 2020, o índice recuou 13,92%, diante do pânico do mercado com a pandemia.

Ibovespa na pandemia (2020)

Recuperação e conjuntura atual (2023):

À medida que o governo e o Banco Central implementaram medidas de estímulo econômico e a vacinação contra a COVID-19 progrediu, o mercado começou a se estabilizar. Assim, a recuperação econômica gradual e a retomada das atividades econômicas ajudaram a restaurar a confiança dos investidores. Atualmente, o Ibovespa está no mesmo patamar que se encontrava logo antes da crise do Covid-19.

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