Montier C-Score: o que é? Como funciona?

Com os escândalos de fraude contábil vindo a tona nos últimos meses, ressurgiu o questionamento nos investidores de como se proteger desses eventuais acontecimentos. Atualmente, existe uma série de estratégias que o investidor pode aplicar para identificar e evitar ações de empresas com indícios de manipulação contábil no Brasil. Sendo uma delas, o uso de indicadores de fraude. Hoje, vamos te apresentar um deles, o Montier C-Score!

Nesse artigo você irá aprender o que é o Montier C-Score, como ele funciona e qual o seu nível de confiabilidade.

O que é o Montier C-Score?

O Montier C-Score é um indicador financeiro desenvolvido por James Montier, renomado autor, analista financeiro e gestor de fundos de investimento britânico. O objetivo do indicador é avaliar a qualidade contábil da empresa e a probabilidade de manipulação de resultados, utilizando as informações financeiras disponíveis nos balanços das empresas.

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Como o Montier é calculado?

O Montier C-Score é uma pontuação de 0 a 6, composta por seis critérios usados para determinar se uma empresa está ou não manipulando suas demonstrações financeiras. Ao pontuar 0, não há evidências de manipulação de resultados, enquanto uma pontuação de 6 sugere grandes evidências.

A fórmula utilizada, considera 6 principais pilares, são eles:

  • Aumento da diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa: pode indicar que a empresa está usando artifícios contábeis para inflar o lucro líquido, já que o fluxo de caixa é mais difícil de ser manipulado. Um exemplo comum são vendas a prazo em que a receita total é reconhecida imediatamente, inflando lucro sem aumentar o fluxo de caixa.

  • Aumento nos dias de recebimento (DSO): mede o número médio de dias que uma empresa leva para receber o dinheiro das vendas feitas a prazo. Essa métrica pode detectar práticas de Channel Stuffing, que ocorrem quando as companhias enviam intencionalmente aos clientes mais estoque do que podem vender, com finalidade de aumentar a receita.

  • Aumento em outros ativos circulantes em relação à receita: representa os ativos circulantes “de pouca importância”. Essa linha abrangente, localizada no balanço patrimonial, pode ser utilizada para ocultar e desviar os olhares de investidores para itens não tão agradáveis.

  • Declínios na depreciação em relação aos ativos fixos brutos: depreciação e amortização são usadas para distribuir o custo dos ativos ao longo de sua vida útil. Se o indicador estiver diminuindo, isso pode indicar que a empresa está estendendo a vida útil de seus ativos ou adiando a depreciação para reduzir as despesas e inflar os lucros.

  • Crescimento total de ativos acima de 10%: algumas companhias tornam-se grandes compradoras e usam suas aquisições para distorcer seus resultados. Isso pode ser um sinal de risco, tendo em vista que a empresa pode estar assumindo dívidas ou usando outras práticas financeiras arriscadas para financiar essas aquisições

Cada um desses pilares é responsável por 1 ponto, e conjuntamente eles somam uma pontuação final de 0 a 6.

O Montier é confiável?

Descobriu-se que, entre 1993 e 2003, as empresas com C-Score alto nos Estados Unidos tiveram desempenho 8% inferior ao do mercado americano (S&P 500) anualmente, gerando um retorno anual de apenas 1.8%. Na Europa, as ações com elevado C-Score também obtiveram desempenho 5% inferior ao do mercado anualmente, embora tenham gerado retornos absolutos em torno de 8% ao ano. Portanto, o indicador tende a destacar companhias com maiores chances de performar pior que seus respectivos índices.

A fim de comprovar a veracidade do C-Score, a EquitiesLab, site de análises e backtests do mercado de ações americano, criou uma carteira teórica com empresas que possuíam o Montier C-Score maior que 3 e a comparou com o desempenho do S&P 500, principal índice de ações dos Estados Unidos, no mesmo período (janeiro de 1995 – dezembro de 2016).

A divergência entre o benchmark e a carteira evidencia que empresas com alto C-Score tendem a performar abaixo do mercado, já que foram superadas por mais de 3x pelo S&P 500 ao longo de 22 anos.

Posteriormente e seguindo a sugestão do próprio James Montier, criou-se uma nova carteira, utilizando os critérios de C-Score maior que 5 e P/S (Preço/Receitas) maior que 2, e as comparou novamente com o S&P 500 no mesmo período analisado anteriormente.

Dessa vez, a performance da carteira foi negativa ao longo do período analisado. Portanto, embora não haja evidências mais detalhadas de que empresas com C-Score alto estejam fraudando suas contas, o excesso de evidências de manipulação tende a ser danoso para as ações das companhias e, consequentemente, para os investidores que as possuírem em seu portfólio pessoal.

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