Após uma série de adiamentos e especulações, a Americanas finalmente divulgou, nesta quinta-feira (16), os impactantes resultados financeiros referentes aos anos de 2021 e 2022. O que se esperava como uma revelação essencial para credores e investidores acabou por confirmar o tamanho do rombo nas finanças da gigante varejista.
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O Prejuízo de Americanas
Os números impressionam: um prejuízo de R$ 6,2 bilhões em 2021, revisando os R$ 544 milhões inicialmente declarados como lucro líquido. A situação se agravou em 2022, com um prejuízo recorde de R$ 12,9 bilhões, tornando-se a maior perda anual da história da Americanas. Somando os dois anos, o rombo totaliza quase R$ 20 bilhões.
Revisão dos Resultados Financeiros de 2021
A companhia corrigiu o lucro líquido inicialmente apresentado, passando de R$ 544 milhões para um prejuízo de R$ 6,2 bilhões.
A sua receita líquida, saiu dos R$ 22,696 bilhões, reportados em fevereiro de 2022, para R$ 22,521 bilhões, uma revisão negativa de R$ 175 milhões.
O resultado de caixa líquido de R$ 1,738 bilhão no balanço de 2021 anterior foi revisado em R$ 15,583 bilhões, passando a uma dívida líquida de R$ 13,945 bilhões, conforme os ajustes apresentados.
Além disso, o seu Ebitda recorrente sofreu um ajuste de R$ 4,077 bilhões, indo dos originais R$ 2,3 bilhões para negativo em R$ 1,780 bilhão.
De acordo com o release do resultado, o perfil de endividamento teve uma mudança relevante em consequência dos ajustes da fraude. Os contratos de risco sacado e de empréstimo de capital de giro, indevidamente contabilizados na conta de fornecedores, foram reclassificados para endividamento, o que resultou no aumento de R$ 15,6 bilhões na dívida bruta.
Além disso, houve a necessidade de reclassificação de todas as dívidas de longo prazo para curto prazo, passando, mesmo as mais longas, a serem exigíveis em curto prazo.
Resultados Financeiros de 2022
Quanto ao ano de 2022, foi divulgado um prejuízo recorde de R$ 12,9 bilhões, resultado de fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários.
Já o Ebitda em 2022 ficou negativo em R$ 6,16 bilhões, ante R$ 3,4 bilhões negativos em 2021. Em termos recorrentes, o Ebitda foi negativo em R$ 2,92 bilhões.
A dívida líquida da Americanas ao fim de 2022 era de R$ 26,2 bilhões, vendo uma deterioração significativa dos seus níveis de caixa e recebíveis em decorrência da fraude contábil descoberta pela empresa em janeiro deste ano.
A Reação do Mercado
Surpreendentemente, o mercado reagiu com otimismo inicial, elevando as ações da Americanas em 10%. Contudo, é importante notar que, mesmo com esse aumento, as ações ainda são negociadas por menos de R$ 1. Um sinal claro de que a empresa enfrenta desafios significativos para recuperar a confiança dos investidores.
A Fraude de Americanas
O abalo nas finanças da Americanas é atribuído a um intrincado esquema de fraude, revelado no início do ano, que envolveu a manipulação de contratos fictícios de verba de propaganda cooperada (VPC). Esse mecanismo, que normalmente é uma prática legítima no varejo, foi distorcido pela empresa, resultando em uma falsa situação patrimonial.
A fraude totaliza expressivos R$ 25,2 bilhões, segundo a própria empresa. A expectativa agora é que esses números sejam fundamentais para a votação do plano de recuperação judicial, agendada para 19 de dezembro.
Para evitar prejuízos futuros dos investidores, o Drops desenvolveu uma ferramenta que objetiva identificar indícios de inconsistências contábeis nos resultados da companhias, o qual flagrou antecipadamente o caso Americanas e Magalu. Para saber mais acesse: Radar de Fraudes: o indicador de manipulação contábil | Drops (dropsdabolsa.com.br)
Mudanças no Plano de Recuperação Judicial
Em outubro, a Americanas revisou seu plano de recuperação judicial, aumentando aportes dos acionistas de referência, como Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, para R$ 12 bilhões. No entanto, mesmo com essas mudanças, o novo plano ainda enfrenta resistência por parte dos credores.
Projeções para o Futuro
A empresa divulgou projeções para 2025, visando um Ebitda superior a R$ 2,2 bilhões, uma dívida bruta financeira entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, e a retomada de um patrimônio líquido positivo. Essas projeções dependem da aprovação do plano de recuperação judicial e de uma série de medidas para reestruturar a empresa.
Conclusão: Desafios e Oportunidades
A Americanas enfrenta um desafio sem precedentes em sua história, marcado por fraudes, prejuízos exorbitantes e um processo complexo de recuperação judicial. A transparência nas divulgações financeiras é um passo crucial para reconquistar a confiança dos investidores e credores. Resta agora aguardar o desfecho dessa saga, que impacta não apenas a empresa, mas todo o cenário do varejo brasileiro.